Dia de busca por mais direitos

Confira artigo da militante da Marcha Mundial das Mulheres em Campinas, SP, Iolanda Ide.

Há anos temos denunciado atentados contra mulheres nas universidades. Foi necessário uma CPI, na Assembleia Legislativa de São Paulo, para que viesse a público graves crimes contra universitárias. Trata-se de quadrilhas que, na certeza da impunidade, têm como objetivo atentar contra direitos de mulheres. A omissão e conivência de professores e autoridades, das diversas universidades, está assentada no patriarcado que está longe de ser superado, a despeito de décadas da instituição do 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres. Não me esqueço do massacre da Escola Politécnica de Montreal (Canadá) em 6 de dezembro de 1989. Marc Lépine,  entrou numa sala de aula de engenharia mecânica, mandou que os homens saíssem e atirou contra as alunas que ele acreditava que haviam “roubado” vaga de homens na universidade. Em seguida dirigiu-se a outras salas e atirou contra outras alunas: 14 morreram e 13 ficaram gravemente feridas.

Não se faz a outrem o que não se deseja (nem mesmo se tolera) para si. Um princípio oposto às bases em que se assenta o patriarcado que os meios universitários aprofundam e reproduzem, quando era de se esperar o contrário.

O cuidado de bebês, crianças adolescentes, doentes, deficientes, idosos e também de marmanjos saudáveis, tem sido historicamente impingido às mulheres. Além de não ser reconhecido, nem é remunerado. Elas trabalham todos os dias da semana sem descanso semanal, todos os meses do ano sem férias, todos os anos da vida. Vida? Que vida é essa? Quem a deseja?

Cada vez mais, nós, mulheres, reivindicamos a democratização dos trabalhos de cuidado, mas pouco conquistamos. A educação de meninos e meninas precisa contemplar efetivamente essa perspectiva. Há quem, além de tudo, tenta imputar às mulheres a culpa pela assimétrica distribuição do trabalho do lar. Lar? Que doce lar é esse que nos trata como escravas e nos impingem o título de “rainhas do lar”?  No espaço doméstico se construiu a desigualdade entre meninos e meninas, entre homens e mulheres. É também nesse contexto que se cultivou a violência chamada doméstica a ponto de, o chamado lar ser o lugar mais perigoso para elas. É no silêncio e no aconchego (aconchego?) do lar que se impõe a submissão às meninas e que, pela exacerbação do machismo, são abusadas sexualmente pelos homens da casa.

Do lar à escola, da rua ao transporte público, da escola infantil à universidade, do trabalho ao lazer, meninas e mulheres somos assediadas continuamente. Além de discriminadas, recebemos salários inferiores aos dos homens, mesmo quando temos maior grau de escolaridade. Além disso, buscam nos mercantilizar. Pois saibam, o mundo não é mercadoria, mulheres também não.

Temos o que comemorar? Pelo dito acima, pouco, a apesar de, na América do Sul termos três presidentas: Michelle Bachelet no Chile, Cristina Kirchner na Argentina e Dilma Vana Rousseff  no Brasil, todas as três com dois mandatos.

Apreciamos flores, mas o respeito aos nossos direitos  é o primordial.

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