Por Márcia Falcão, Educadora Popular do CAMP
Quem construiu as cidades brasileiras, dos centros às periferias?
Nelas, nas suas ruas e praças vemos quase sempre o nome de homens brancos colonizadores escravocratas ou militares.
E as marcas arquitetônicas de nossas cidades históricas ora mercantilizadas pelo turismo: o Pelourinho e sua Salvador, Ouro Preto, Parati, Pelotas em suas charqueadas feitas pousadas de luxo… quem às construiu? Quem cuidou e ainda cuida do asseio da Casa Grande?
As praias paradisíacas do nordeste brasileiro… as ruas dos prazeres de um sábado à noite – ou qualquer outro momento – quem se serve delas? Quem serve aos que se servem delas?
Diremos, em coro: os trabalhadores! Sim: os trabalhadores!!!
Mas… outras menos confortáveis perguntas precisam ser feitas:
Quem são esses trabalhadores? Quem é essa classe e sujeito histórico a quem verdadeiramente confiamos a transformação das estruturas opressoras da sociedade?
Quem fala por essa classe trabalhadora? Em nossas mesas de quadros militantes, onde está a mulher negra que mora com a parcela mais pobre da sociedade na periferia, anda de ônibus com diferentes categorias de trabalhadores e cuida da casa e dos filhos das classes médias e das elites da sociedade brasileira? Não teria ela uma visão ampla da realidade brasileira?
Onde está a juventude negra e da periferia que serve a mesa do bar e entrega o lanchinho na minha, na tua casa?
Onde estão nos nossos círculos de debates os corpos sexuados diversos e dissidentes? E as travestis ou as putas que temem por ter seus corpos dilacerados à morte pelos mesmos que se servem deles para seus prazeres inconfessos?
Suas lutas seguirão sendo por nós tomadas como identitárias e contidas numa caixinha de urgência secundária? Seguiremos acreditando que é preciso fazer a revolução da classe e depois tudo mais se ajeita?
Tantas histórias,
Tantas questões.
Outubro, 2021