Por Mauri Cruz
Parece que foi ontem que comemoramos 30 anos e já se passaram três anos e estamos aqui, novamente, numa conjuntura desafiadora, fazendo debates coletivos, inspirados pela metodologia da educação popular, uma educação crítica, que empodera os sujeitos e, portanto, libertadora.
Já é lugar comum a certeza de que o CAMP não envelhece. Possui uma dinâmica de renovação constante, permanente, sistêmica. É incrível como a entidade está sempre focada nas novas lutas, nos novos atores em novos processos. Esta postura de ter capacidade de inovar sem perder a perspectiva da luta de classes, do processo histórico do povo brasileiro rumo a sua libertação é que promove a vitalidade e a reconstrução permanente do fazer do Camp.
Há 33 anos, este centro de educação popular, nasceu da iniciativa genuína de jovens ligados as lutas do campo, ligados as lutas operárias urbanas e as comunidades eclesiais de base. Trazia o aprendizado daquelas mulheres e homens que participaram da luta armada contra o golpe militar. Esta experiência, indicou que, no Brasil continente, seria preciso mais que a tomada do poder central por uma vanguarda armada. Era preciso enraizamento popular,, através de movimentos sociais de massas, com grande capacidade de organização, autônomos em relação aos próprios partidos de esquerda, democráticos e plurais. Uma sociedade civil organizada, capaz de enfrentar o capitalismo, mas também de não cair nos erros da burocracia do socialismo real representado, principalmente, pela experiência da URSS.
O Camp nasceu como instrumento desta estratégia. E encontrou nos processos e na metodologia democrática da educação popular ferramentas capazes de promover, pelo debate crítico e pela firmeza de posicionamento político, empoderamento de atores sociais coletivos na luta contra o capitalismo e pela construção de outro mundo possível.
Em 2003, quando o Camp completava 20 anos, realizamos um levantamento das atividades realizadas naquelas duas décadas, seja nos processos de apoio aos movimentos de trabalhadores rurais, sejam nas oposições sindicais urbanas e rurais, na organização dos atingidos pelas barragens, nos movimentos comunitários ou na luta contra o desemprego e a carestia. Chegamos ao número de mais de 100 lideranças sociais que haviam participado em algum momento por atividades organizadas pela entidade. Alguns se surpreenderam. E, naquela época, com o fim dos recursos da cooperação internacional, parecia que o Camp havia chego ao seu final, cumprido, afinal, sua missão.
Passados 13 anos, o Camp agregou a sua já vitoriosa trajetória, novos processos e novas experiências. Participou, por exemplo, em âmbito nacional, dos processos de formação e articulação da Rede de Educação Cidadã, nossa RECID, com a realização, em quatro anos, de quase 10 mil oficinas com educadoras e educadores populares em mais de 500 cidades dos 27 estado brasileiros, reunindo, só neste processo, 190 mil pessoas.
Somam-se, a esta experiência, todos os processos ligados à economia popular e solidária, os trabalhadores e trabalhadoras de reciclagem, as lutas dos direitos humanos, as processos com os moradores e moradoras de rua, a articulação com os movimentos sindicais urbanos, as questões ligadas a juventude urbana através da cultura e da arte popular.
Isto tudo, sem perder a perspectiva da articulação nacional, através da participação na Abong e, através dela, nos processos do FSM em Porto Alegre e no Brasil, e na articulação latino-americana através do Conselho de Educação Adultos na América Latina – CEAAL e da participação na Associação Latino-Americana de Organizações para a Promoção do Desenvolvimento – ALOP.
O Camp, é um patrimônio da luta do povo brasileiro para conquistar sua autonomia, seu empoderamento, fortalecer a democracia e construir uma outra sociedade, socialmente e economicamente justa, ambientalmente sustentável e radicalmente democrática. É um orgulho fazer parte desta história.