Feira é alternativa de geração de renda para grupos mais atingidos pela crise econômica resultante da pandemia
Por Marcelo Ferreira
Brasil de Fato | Porto Alegre | 28 de Agosto de 2020 às 16:17
A geração de renda em tempos de pandemia tem sido um desafio para os grupos sociais mais atingidos pela crise provocada pelas restrições das atividades econômicas. Em sua quarta edição, que inicia nesta sexta-feira (28) e vai até o dia 6 de setembro, a Feira Virtual da Rede Ubuntu mostra-se como uma alternativa para os grupos que compõem a Rede: povos tradicionais de matriz africana, indígenas, quilombolas, pescadores, camponeses e grupos da economia solidária do Rio Grande do Sul.
Para quem compra, é uma oportunidade de praticar o consumo consciente sem a necessidade de se expor ao novo coronavírus, incentivando cadeias de produção e distribuição curtas, apoiando quem mais precisa. Conforme uma das feirantes, Isabete Fagundes Almeida, do Haja Luz – Acervo Cultural Afrodescendente, “a chegada da pandemia impactou muito na renda, pois com distanciamento social e a necessidade de ficar em casa as atividades de vendas pararam subitamente, já que nosso trabalho é de contato direto com o consumidor”.
Avaliação confirmada pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua divulgada nesta sexta (28) pelo IBGE, que mostra que a taxa de desocupação no país, no 2º trimestre de 2020, foi de 13,3%. Os dados mostram um aumento de 1,1 ponto percentual em relação ao primeiro semestre do ano, com um aumento maior do desemprego entre os pretos e as mulheres.
A taxa de desocupação por cor ou raça mostra que o índice dos que se declararam pretos (17,8%) e pardos (15,4%) ficou acima da média nacional, enquanto entre pessoas declaradas brancas (10,4%), ficou abaixo. A pesquisa também mostra que a taxa de desocupação para as mulheres foi de 14,9%, enquanto para os homens foi estimada em 12,0%.
Feira virtual com entrega grátis
Para Isabete, que comercializa turbantes, brincos e artesanato valorizando a cultura afro, sua produção é “uma forma de fomentar o conhecimento e a valorização da complexidade que envolve a construção da identidade negra”. Segundo ela, o olhar social e solidário da Rede Ubuntu “veio promover novos paradigmas para que saíssemos desse medo e alienação frente a pandemia e começássemos a enxergar uma nova forma segura de comercializar nossos produtos”.
A Feira Virtual da Rede Ubuntu ocorre através de um grupo no Facebook, onde os empreendimentos postam seus produtos e serviços. O pagamento é combinado direto com o vendedor e a entrega é gratuita para Porto Alegre e região Metropolitana. Entre os itens encontrados estão artesanato, produtos afros, serviços, brechós, alimentação e produtos orgânicos.
“É de extrema importância fazer parte da Rede Ubuntu, uma rede séria, fortalecida, em que todos se preocupam com todos e buscam o melhor para todos”, afirma Michelle Oliveira, do Pretta Tchê Africanidades. A feirante trabalha com turbantes, torços, faixas confeccionadas com o tecido africano chamado capulana e outros acessórios inspirados na cultura afro.
Michelle ressalta o importante papel do coletivo que, a partir da tecnologia encontrou um novo formato para realizar feiras. “No início estava difícil, mas como estou acostumada a me reinventar, logo me adaptei a essa nova modalidade. O impacto foi grande, pois conquistar o cliente novamente, trazer para o ‘novo’, as vendas online, não foi fácil”, relata.
Economia solidária e formativa
Integrante da Rede Ubuntu desde 2018, Michelle conta que conheceu a economia solidária a partir da feira e se apaixonou. “A ideia da economia solidária é tornar a sociedade menos desigual. O interesse com o bem-estar das pessoas que fazem parte do processo de produção e consumo daquele produto ou serviço, é como se fôssemos uma grande família”, avalia.
Já Isabete integra a Rede Ubuntu desde abril 2020. “Já conhecia a economia solidária, mas não participava. Como o nome já diz, Rede Ubuntu que significa ‘junto podemos mais’ e nesse sentido a rede possibilitou a vários grupos e pessoas uma nova forma de manter a renda familiar sem sair de casa, pois disponibilizou motoboys para retirar e entregar as encomendas”, ressalta.
A Rede Ubuntu foi constituída em 2018, a partir de um projeto do Centro de Assessoria Multiprofissional (CAMP), em parceria com o Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (FONSAPOTMA), conquistado em edital do governo federal. Além de fomentar feiras, desenvolve processos formativos fundamentados na educação popular e de articulação com outros atores da economia solidária, visando o fortalecimento das cadeias produtivas, a geração de trabalho e renda, a constituição de arranjos econômicos territoriais de produção, comercialização e consumo solidário.
O endereço da Feira é: https://www.facebook.com/groups/redeubuntu/
Edição: Katia Marko