Na manhã do dia 11 de abril, aconteceu a Plenária Nacional do Fórum Social Porto Alegre – 15 Anos, no Fórum Democrático da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Após a apresentação dos presentes, foi feito um balanço do Fórum Social Mundial 2015, realizado de 24 a 28 de março na Tunísia. O evento foi visto como vitorioso. O Fórum foi realizado no país onde iniciou a “Primavera Árabe” e, até hoje, um dos únicos lugares onde não se reverteu para um “inverno árabe”, ou seja, para guerra civil ou ditadura.
Avaliação do Fórum Social Mundial 2015
Para a luta democrática na região, estes anos em que o FSM esteve no norte da África foram de fundamental importância. Foi fundamental o FSM apoiar um espírito de tolerância, de respeito às diversidades, até mesmo da religiosa. Houve uma presença da juventude tunisiana, argelina, marroquina, magrebina, brasileira. Foram 120 países presentes, a delegação brasileira eram a 5 delegação.
A delegação brasileira fez um balanço positivo com muitos jovens, mulheres e negros. Muitos, pela primeira vez, em uma edição do Fórum Social fora do Brasil. Houve muito elogio aos voluntários e à Abong, que recebeu à todos e deu toda a assistência necessária. A questão da tradução foi colocada como um agravante. O que mudava era o país, mas a realidade de exclusão é sempre a mesma, assim como a temas relacionados à juventude e ao feminismo.
FSM, ideologias, governos e partidos
Tivemos um sopro de vida e cada vez mais o FSM se mostra como uma alternativa. Mesmo com as contradições, com o apoio da Petrobras, há muito debate, há clareza ideológica. É preciso reconhecer que há movimentos e governos de esquerda e que há movimentos de centro e de direita. O FSM tem que repensar sua dinâmica em relação aos partidos de esquerda que lideram agendas de transformação em todo o mundo, não só na América Latina.
Jornalista da CUT, Leonardo Severo, entregou um abaixo assinado defendendo a proposta do FSM em Porto Alegre. No entanto, o próximo Fórum Social Mundial será em agosto de 2016 no Quebec/Canadá.
Algumas questões ficaram de ser encaminhadas, tais como a tradução do material que veio de Tunísia pelos participantes e a entrega do material do Fórum Social Porto Alegre, que deve estar pronto até o Fórum Social Temático sobre Reforma Política, que acontece nos dias 03 a 05 de julho de 2015 em São Paulo.
Balanço da conjuntura nacional
A luta de classes retornou à pauta com toda a força. A direita se encorajou para ir para as ruas, militantemente. Está organizada e na ofensiva política. Os movimentos sociais ficaram assistindo, cada um cuidando de sua agenda, sem articulação política. Sem visão estratégica. Estão dispersos e com um sentimentos contraditórios em relação as governos de esquerda.
Passados os processos eleitorais, falta convicção dos governos de esquerda de assumir as bandeiras e a pauta dos movimentos sociais. Esta postura faz com que cresça na base da sociedade, mesmo aquela comprometida com as mudanças sociais, um sentimento de que nenhum partido, nenhuma instituição, nenhuma liderança as representa.
A possibilidade de acesso aos direitos sociais gerada pelas políticas públicas dos governos de esquerda, sem mexer nos interesses do grande capital, se esgotou. Agora, ou haverá um enfrentamento com os interesses destes setores econômicos, ou haverá retrocessos. A prova disto são as pautas do Congresso Nacional: redução da maioridade penal, terceirização, retirada do direito do Executivo demarcar as terras indígenas, entre outros. Nossa agenda política tem que ser “Nenhum Direito a Menos”.
Parte das pessoas que estão nas ruas não é contra o estado, pelo contrário, quer mais estado. O Fórum Social pode ser um espaço para apontar caminhos. Um outro mundo é possível. Qualquer saída passa por mais democracia. Então, nosso eixo é a crise da democracia. Queremos mais democracia. Democracia permanente. Democracia sem fim.
A direita está tentando colocar em prática aquela máxima usada contra Getúlio Vargas em 1951 e Jango em 1961 de que eles não podem ganhar as eleições. Se ganhar, não podem tomar posse. Se tomar posse não podem governar. Este acirramento está mudando a qualidade da luta política no país e as esquerdas não estão sabendo como agir neste novo contexto.
A maioria dos movimentos e das lideranças tradicionais se acomodaram e estão longe da juventude da periferia que são os novos agentes da transformação social no país. O novo não quer o que está aí, mas também não sabe o que colocar no lugar. É preciso romper a dicotomia entre o velho e o novo. É muito importante a troca de experiências entre os velhos e o novos movimentos porque um tem muito a aprender com o outro. O Fórum Social pode ser um espaço deste diálogo, desde que, a metodologia crie as condições para trocas.
Questões gerais do caráter do Fórum Social Porto Alegre – 15 anos
Ainda são as contradições que movem o mundo. E nossa realidade está repleta de contradições. É preciso explicitá-las.
O “austericídio” na Europa e os ataques aos direitos na América Latina fazem parte da mesma estratégia do capitalismo internacional. Temos uma agenda comum para debater no Fórum Social.
O Planeta Terra continuará existindo por milhões de anos. A questão colocada é se a humanidade fará parte desta história. A crise da civilização está no centro da agenda política e o lema “outro mundo é possível, é urgente e necessário” continua atual.
É preciso repensar a dinâmica do Fórum Social, seu desenho precisa ser inovado, criar coisas novas do ponto de vista metodológico. O desenho, no geral, está esgotado porque cada movimento vai para o mesmo espaço físico mas não conversa com os outros. É preciso renovar e reinventar o modo de fazer Fórum Social.
A questão é como fazer com que as individualidades contemplem a maioria e não cada um pensando em si. É preciso reforçar a pluralidade. É necessário colocar a juventude na área central e não distante. A própria lógica do convite tem que ser diferente. Os debates tem que ser mais dinâmico. Porto Alegre já foi protagonista porque iniciou o Orçamento Participativo e o próprio Fórum Social Mundial. Temos que ter ousadia e propor coisas novas.
O Fórum Social é um espaço de formação ideológica dos quadros. Tem caráter pedagógico, educativo e formativo. Tem que funcionar como processo e não como evento. Por isso, o desafio é descentralizar o Fórum, levar para as comunidades, para a periferia. Não ficar só em janeiro, mas iniciar as atividades político culturais desde agora.
Fonte: Ata da Plenária Nacional do Fórum Social Porto Alegre