Fórum Social Mundial começa na Tunísia com mensagem contra o terrorismo

Sob o slogan Povos do Mundo Unidos contra o Terrorismo, a tradicional marcha de abertura do Fórum Social Mundial (FSM), que começa hoje (24) em Túnis, capital da Tunísia, quer levar uma mensagem de solidariedade às famílias das vítimas do ataque ao Museu do Bardo, que matou 22 pessoas no dia 18 de março, e de repúdio ao terrorismo. O itinerário da marcha foi alterado pela organização do evento e terminará em frente ao museu, com um ato contra o extremismo. O atentado foi reivindicado pelo Estado Islâmico.

O antropólogo Alaa Talbi, membro do Fórum Tunisiano de Direitos Econômicos e Sociais e um dos organizadores do comitê local do FSM, informou que todas as delegações confirmaram presença no fórum para reforçar a solidariedade aos tunisianos. “Os povos do mundo são solidários com a sociedade tunisiana e são solidários também com as vítimas da opressão no mundo. É uma mensagem clara da sociedade civil de luta contra o terrorismo”, disse ele, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Talbi, não há preocupação de ocorrer outro atentado terrorista porque todas as medidas foram tomadas pelo governo para garantir a segurança da marcha e da Universidade El Manar, onde ocorre o FSM até o dia 28 de março. “Eu não acredito que haverá outro ataque durante o fórum”, disse.

O antropólogo explicou que esta segunda edição do FSM na Tunísia – a primeira foi em 2013 – é muito importante para o país que vive um momento de consolidação da democracia. No evento de dois anos atrás, os debates centraram-se na transição para a democracia por que passava a Tunísia.

“O contexto político tunisiano mudou desde 2013. Hoje temos uma nova Constituição, uma agenda política clara, mas há desafios na situação social, econômica e ambiental. Creio ser importante que o fórum dê energia ao movimento civil tunisiano para debater essas questões. Muitos movimentos sociais surgiram no país a partir do primeiro fórum e ajudaram na transformação da sociedade”, disse Talbi.

A Tunísia é considerada o berço da Primavera Árabe, a série de levantes populares que derrubou governos autoritários na região. A transição do país para um regime democrático é tida como o único caso de sucesso da onda de contestações, já que países como a Síria e o Egito estão assolados por conflitos. O país promoveu eleições parlamentares e elegeu seu presidente, no ano passado, o líder do partido laico Nidaa Tounès, Beji Caid Essebsi. Foi a primeira vez, desde a independência tunisiana do domínio francês, em 1956, que a população escolheu livremente o presidente do país.

O perigo jihadista é apontado como uma ameaça à consolidação das novas instituições, já que ataques de grupos radicais ainda são registrados no interior do país. Segundo Talbi, o atentado ao Museu do Bardo foi o primeiro no centro da capital. “O ataque atingiu o símbolo político do Estado, que é o Parlamento [que fica ao lado do museu], mas, para mim, isso vai reforçar a consolidação democrática pois hoje estamos unidos para vencer a fase de transição democrática na Tunísia”.

Para o antropólogo, o combate ao terrorismo na Tunísia deve passar por uma mudança nas atuais políticas econômicas que, segundo ele, levam à exclusão social. “O número de desempregados aumentou, sobretudo entre os jovens, a crise social é aguda e o mais grave é que hoje o terrorismo está nos bairros pobres e marginalizados”, destacou. Muitos tunisianos deixaram o país nos últimos anos para se juntar a jihadistas do Estado Islâmico na Síria e no Iraque.

O fórum espera reunir cerca de 60 mil pessoas e tem quase 1,1 mil atividades previstas entre 24 e 28 de março. Mais de 4 mil organizações de 118 países estão inscritas para participar do evento, que terá como lema “Dignidade, direitos e liberdade”.

Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) e coordenador da ONG Vida Brasil, Damien Hazard, que é membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, o encontro, inaugurado sob o lema “Um outro mundo possível”, em Porto Alegre, em 2001, como contraponto ao Fórum Econômico Mundial, que reúne grandes empresários e políticos em Davos, na Suíça, ainda é atual porque a desigualdade e a exclusão social aumentaram no mundo.

“Não há nenhuma articulação internacional que tenha essa capacidade de mobilizar tantas organizações. O fórum continua sendo o maior encontro planetário da sociedade civil. Resta saber se vai ser capaz de articular esses movimentos que têm convergência das suas pautas e reivindicações para conseguir ter maior incidência política em âmbito mundial, inclusive com maior visibilidade. Um desafio do fórum é ter maior visibilidade que não está sendo alcançada por meio da mídia comercial”, disse Hazard.

Segundo Francisco Whitaker, um dos fundadores do fórum e membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da Conferência Nacional de Bispos do Brasil e do Comitê Internacional do FSM, é preciso mais do que nunca reafirmar que outro mundo é possível. “Se quando foi criado era necessário dizer que há alternativas ao mercado, hoje mais ainda. Os valores do fórum são respeito à diversidade, cooperação e não competição. O fórum é cada vez mais necessário”, disse.

Fonte: EBC

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