2013: O TEMPO NÃO PAROU

2013: O TEMPO NÃO PAROU

Não sei se tem a ver, mas tive um pesadelo daqueles dias antes do Natal. Estava nos arredores de Porto Alegre, tentava seguir para a cidade, para minha casa perto do centro, não conseguia de jeito nenhum. Obras, estradas, pontes, nada permitia avançar. Não havia caminho. Meio acordado, meio dormindo e sonhando, me viro na cama, o sonho/pesadelo não acaba. Mais um tempo e me aparece o ministro Gilberto Carvalho, com quem trabalho na Secretaria geral da Presidência da República. Estamos os dois encalacrados, sem conseguir sair do lugar. Digo-lhe pra chamar um helicóptero, que é o único jeito de sair dali. Finalmente, acordei, era hora de levantar, muito cansado, como se tivesse trabalhado a noite inteira ou lutado contra algum gigante.

Lembrei mais tarde que, dias antes do sonho/pesadelo, a presidenta Dilma inaugurou a BR-448, que liga o interior do Rio Grande à capital Porto Alegre e facilita muito a entrada na cidade. E lembrei-me de outra coisa. No final de 2012, o ministro Gilberto cunhou uma frase, com muita repercussão, lembrada no final de 2013: ‘O bicho vai pegar’. De minha parte, escrevi em janeiro de 2013, um artigo com o título ‘2013 promete!’. E arrisquei o seguinte: “Senão vejamos o que se prevê para 2013, ano sem eleições e, a princípio, sem grandes acontecimentos, ou extraordinários, à vista no horizonte. 2013 não será apenas um ano de semear. Será também um ano de colher.”

Errei, pois, boa parte da minha análise, eu que me considero um razoável analista de conjuntura. ‘O bicho pegou’ mais que 2013 ‘prometeu ou prometia’ no seu início. Senão vejamos. Primeiro veio o Movimento Passe Livre (MPL) sacudindo Porto Alegre. Depois, o Brasil foi sacudido nas Jornadas de Junho. Juventude e povo na rua, mobilização social de um dia para outro, os governos buscando entender e dar resposta, os Poderes todos aturdidos, os analistas sem palavra. A morte de Hugo Chávez no início do ano e a de Nelson Mandela, ambas de repercussão mundial. E a mais que inesperada eleição do papa Francisco, um argentino e latino-americano, sacudindo em poucos meses todas as paredes da igreja católica. Sem esquecer as bombásticas revelações de Edward Snowden sacudindo o mundo.

E ainda poderia citar as eleições de Nicolás Maduro na Venezuela, de Michele Bachelet no Chile, o aperto de mãos entre Raul Castro e Obama na África do Sul, os trágicos acontecimentos na Síria, as negociações das FARC com o governo colombiano, o julgamento da AP 470 martelando nos ouvidos de todos o ano inteiro, Uruguai e seu corajoso presidente Pepe Mujica tornando-se referência mundial, a morte de 242 jovens em janeiro em Santa Maria no incêndio da boate Kiss, os médicos cubanos que estão encantando o Brasil, etc., etc.

Ou seja, não dá para falar de tédio em 2013.

2013 não foi um pesadelo. Foi, felizmente, o ano em que o Brasil saiu de uma certa pasmaceira. Tudo parecia muito bem, tudo parecia muito bom, como cantou um dia a Blitz. Mas verificado mais de perto, descobriu-se que há ainda grandes problemas de mobilidade urbana e transporte público, a saúde precisa melhorar muito, os governos precisam acordar. E é o que aconteceu ou está acontecendo, em véspera de Copa do Mundo e eleições.

Acertei pelo menos numa coisa, meio sem querer, quando escrevi em janeiro: “2013 é o ano! Pode/deverá ser um ano emblemático, a passar para a história, como outros, por diferentes motivos e circunstâncias, passaram – 1968, 1984, 1989, 2002. As condições estão dadas. Há um despertar da sociedade. Há governos que sopram a favor. Quem acredita, pode fazê-lo. Quem sonha, pode construí-lo.”

2013 sacudiu todos e todas: povo, governos, Poderes, mídia. Um ano para entrar na história. Não há o que temer. Sociedade acordada, juventude de orelhas em pé, a democracia fluindo. Como disse Edward Snowden, o Brasil é hoje uma das democracias mais vibrantes do mundo. Eu que fiz/faço parte de tudo isso e coloquei/coloco meu tijolinho na construção, sinto-me feliz e orgulhoso.

Que ‘venga’ 2014. Feliz Ano Novo a todas e todos. Sem medo de ser feliz.

Selvino Heck

Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República

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