exposição Cruzamentos: entre a cidade e o rio

A exposição Cruzamentos: entre a cidade e o rio integra o Projeto Economia Solidária e População em Situação de Rua: estratégias de valorização do saber-fazer, executado pelo CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, sendo parte do processo formativo e de incubação do coletivo de trabalho constituído por alunos, em parceria com a EPA – Escola Municipal de Ensino Fundamental de Porto Alegre, que há 21 anos atende pessoas em situação de rua ou de extrema vulnerabilidade.

Entre o aguçar de saberes, fazeres e desejos desse coletivo, a fotografia se apresentou como uma oportunidade de avivar ações, sentidos e sensações que afluíssem arte e geração de renda, possibilitando ver a rua através de um olhar imagético e dando materialidade – a esse olhar – por meio de postais e painéis que, para além do seu potencial de venda, possui múltiplos significados de valor.

Evento no face: https://www.facebook.com/events/1616107368400398/?ti=cl

Tendo a rua como o lugar habitado, a morada imprecisa, a contextura que acolhe e que oprime, e o rio que verte a cidade, os olhares foram lançados sobre os lugares que habitam a cidade. O coletivo optou por não fotografar pessoas, mas sim os delineamentos, os cruzamentos, os diálogos entre a rua, a cidade, o rio. A rua diz coisas, a rua se manifesta, os cenários falam para além das ações humanas, o rio amansa.

A ação era em dupla, possibilitando o compartilhamento de impressões e saberes e, assim incrementando e aguçando um outro olhar para o mesmo local registrado. Exercício em conjunto sobre a mudança de perspectiva, a escolha dos lugares, o ajuste dos deslocamentos, a busca pelo melhor contraste, pela luminosidade…seguindo a sombra do outro.

Ao mesmo tempo imprimia-se a alteridade, formas singulares de capturar momentos e paisagens, jeitos de manusear a câmera, de soltar o dedo, de flexibilizar o corpo e registrar os movimentos da cidade, o percurso silencioso do rio, direcionando poses e sutilezas.

Esta exposição, para além de sua abertura poética e experiência estética, é também ética e política, fruto de um conjunto de esforços, principalmente, dos/as trabalhadores da Escola EPA, que possibilitam a abertura de diálogos entre entidades e seus alunos, dentre eles o projeto de extensão da UFRGS – A Cara da Rua – que, a partir de 2015, introduziu a fotografia nas atividades da escola. São ações e parcerias que, mesmo com um cenário político tão adverso, resistem aos grandes interesses, e trazem à luz a força e a resiliência dessa gente que é marginalizada por nossas instituições e, infelizmente, por boa parte da nossa sociedade.

É por isso que convidamos o expectador a adentrar as margens e a mergulhar na potência ética e estética que sobreaguam esses trabalhos artísticos, feitos por gente da rua, por devires sem teto, que cruzam também afetos e olhares nobres, entre a cidade e o rio.

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