Pelo debate público

Por Claudir Nespolo

No final de novembro, dezenas de organizações nacionais e internacionais promoveram o Fórum Social Mundial Palestina Livre. Com esse gesto, Porto Alegre entrou para a história das lutas civilizatórias como uma cidade solidária e que aposta em um futuro de paz e sem opressão.

Diferentemente de nós, as organizações contrárias à realização do Fórum da Palestina em Porto Alegre não ocuparam os espaços públicos para exporem suas divergências, preferiram atuar nos bastidores ou ignorá-lo. Antes de expormos publicamente as nossas contrariedades, esforçamo-nos para corrigir os rumos nos espaços constitutivos do próprio Fórum. Procedendo dessa forma, demonstramos que o debate público e a transparência são cruciais para a consolidação da democracia.

A CUT, juntamente com várias entidades históricas na organização do Fórum Social Mundial (FSM), ao avaliar o contexto desse fórum temático, detectou uma concepção de evento previamente estruturada e impermeável a modificações e uma tendência de desfiguração de sua identidade. Foi isso que nos afastou do processo.

O fato de termos uma lei que autoriza patrocínio público ao evento não seria problema. Questionamos o método, a ausência de consultas, a rapidez dos debates e a recusa no aperfeiçoamento do projeto de lei. Da mesma forma, temos dificuldades de entender os motivos da criação do IAFSM – Instituto dos Amigos do Fórum Social Mundial, entidade que pretende não só definir a aplicação dos recursos como vocalizar as decisões em torno desse e de futuros fóruns sociais em nossa cidade. É de conhecimento que o FSM dispõe de comitês organizadores consolidados, local e internacionalmente. Justo para preservar a autonomia que ele requer e assegurar as recomendações de sua Carta de Princípios. Um instituto paralelo é desnecessário e, neste momento, também inoportuno.

Participam do FSM experiências que, de alguma maneira, criticam as consequências do sistema capitalista, projetam um novo mundo e rejeitam as políticas neoliberais. É elogiável o fato de organizações tradicionalmente refratárias passarem a apoiá-lo. Contudo, a introdução dessas organizações na dinâmica organizativa desse fórum social temático deveria ser precedida de reflexões e amadurecimentos. Faltou cautela e sobraram interesses de outra ordem, alguns inclusive de caráter sabidamente comercial.

Como protagonista do FSM desde a sua primeira edição, resistiremos a essa tendência de desfiguração e banalização. Seguiremos com os canais de diálogo abertos e faremos o que for necessário para corrigir os rumos das próximas edições. Encontramo-nos ativos na preparação do FSM que ocorrerá na Tunísia de 26 a 30 de março deste ano. Defenderemos que o Brasil volte a abrigar o FSM e que Porto Alegre seja a cidade escolhida. Quanto ao Fórum Social Temático Cidades Sustentáveis, cabe à CUT-RS desejar bons debates e que as fileiras dos que se engajam por um mundo melhor aumentem continuamente.

Claudir Nespolo é presidente da CUT/RS.

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